Prof. Sérgio Rebelo perspetiva o “Futuro do Queijo da Serra”
O queijo da Serra é admirado em Portugal como uma iguaria culinária ímpar. Com razão. É um produto artesanal com um paladar inesquecível, produzido com o precioso leite das ovelhas bordalesas que um grupo de pastores dedicados guarda com zelo na Serra da Estrela, cerca de 2,000 metros acima do mar.
Um dia, o queijo da Serra pode vir a ser consumido com admiração em todo mundo. Mas para esse dia chegar, é preciso construirmos dois pilares.
O primeiro pilar é a criação do queijo da serra como uma marca reconhecida fora do país. Para isso, é preciso que os produtores juntem os recursos que dedicam à promoção num orçamento comum que possa servir para divulgar o queijo além fronteiras. Dada a sua qualidade e escassez, o queijo da serra deve ser vendido como um produto de luxo. Para tal acontecer é preciso desenvolver uma estratégia de marketing adequada. Uma possível ação de promoção é a criação da semana do queijo da serra em cidades estrangeiras. Esta ação pode contribuir de forma decisiva para a divulgação do nosso queijo. É depois necessário construir uma arquitetura de distribuição que permita ao consumidor interessado encontrar o queijo nas prateleiras das lojas de produtos alimentares.
O presidente Charles de Gaulle queixou-se que não era possível governar um país com 246 tipos de queijo. Mas o que é certo é que os produtores de queijo francês conseguiram governar-se, criando um conselho de marketing que promove o queijo francês no estrangeiro. É este tipo de união que pode dar força ao queijo da serra.
O segundo pilar é o controlo qualidade. Sem esse controlo todos os esforços de promoção podem ser gorados pela presença de produtores de queijo de inferior qualidade.
Um bom exemplo de controlo de qualidade é a criação do consórcio que controla a produção do queijo parmesão (Parmigiano-Reggiano). Fundado em 1901, certifica a origem e a qualidade do queijo que é exportado. Hoje o queijo produzido pelas 350 queijarias artesanais que obedecem às regras do consórcio que criaram é consumido e admirado em todo o mundo.
A criação da designação DOP (denominação de origem protegida) para o queijo da serra dá a garantia de qualidade que é essencial que o queijo da serra possa vingar nos mercados internacionais. Com este pilar erguido, há que trabalhar na estratégia de promoção para que um dia o nosso queijo da serra conquiste o mundo.
*Sergio Rebelo é professor na Kellogg School of Management da Universidade de Northwestern nos Estados Unidos. Nos tempos livres, escreve um blog sobre Portugal chamado Salt of Portugal.